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As mãos negativas

Marguerite Duras

1979

Les mains négatives [fr]

Las manos negativas [es]

As mãos negativas

Chamam-se “mãos negativas” as pinturas de mãos encontradas nas grutas magdalenienses da Europa Sul-Atlântica. O contorno dessas mãos – espalmadas sobre a pedra – era recoberto de cor. O mais frequente de azul, de preto. Às vezes, de vermelho. Nenhuma explicação foi encontrada para esta prática.



Diante do oceano
sob a falésia
sobre a parede de granito


essas mãos


abertas


Azuis
E pretas


Do azul da água
Do preto da noite


O homem veio sozinho na gruta
de frente para o oceano
Todas as mãos têm o mesmo tamanho
ele estava sozinho


O homem sozinho na gruta olhou
no barulho
no barulho do mar
a imensidão das coisas


E ele gritou


Tu que tens um nome e uma identidade eu
te amo


Essas mãos
do azul da água
do preto do céu


Planas


Colocadas divididas sobre o granito cinza


Para que alguém as visse


Eu sou aquele que chama
Eu sou aquele que chamava que gritava há trinta
mil anos


Eu te amo


Eu grito que eu quero te amar, eu te amo


Eu amarei quem quer que escute o meu grito

Sobre a terra vazia ficarão essas mãos sobre a parede de
granito de frente para o fragor do oceano


Insustentável


Ninguém escutará mais


Ninguém verá


Trinta mil anos
Estas mãos, pretas


A refração da luz sobre o mar faz tremer
a parede da pedra


Eu sou alguém eu sou aquele que chamava que
gritava nessa luz branca


O desejo


a palavra ainda não foi inventada


Ele olhou a imensidão das coisas no fragor
das ondas, a imensidão de sua força


e depois gritou


Acima dele as florestas da Europa,
sem fim


Ele se segurou no centro da pedra
dos corredores
das vias de pedra
de todas as partes


Tu que tens um nome e uma identidade eu
te amo com um amor indefinido


Seria necessário descer a falésia
vencer o medo
O vento sopra do continente ele empurra
o oceano
As ondas lutam contra o vento
Elas avançam
abrandadas por sua força
e pacientemente alcançam
a parede


Tudo se esmaga


Eu te amo mais longe do que tu
Eu amarei quem quer que escutará que eu grito que eu
te amo


Trinta mil anos


Eu chamo


Eu chamo aquele que me responder


Eu quero te amar eu te amo


Há trinta mil anos eu grito em frente ao mar o
espectro branco


Eu sou aquele que gritava que te amava, tu

 

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modo de usar & co http://revistamododeusar.blogspot.com/2012/02/marguerite-duras-1914-1996.html
Érica Zíngano e Marcela Vieira [tradução]

 

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